Por que Snowdrop flopou? Análise Crítica.

Um dos piores dramas que já assisti que foi marcado por controvérsias antes e depois de sua produção. Veja alguns motivos para Snowdrop não ter agradado muita gente dentro de seu próprio país.

Originalmente publicado em 31/01/2022.

Introdução

Veio aí um blog controverso assim como o drama desse blog e meu cancelamento pelas BLINKS de plantão. Brincadeiras a parte, aqui vou redigir uma longa análise crítica sobre o drama que cativou milhares de dorameiros recentemente e vi até alguns coreanos pedindo segunda temporada (??). É meus amigos, essa síndrome da netflix tá acabando com as pessoas. Aviso que o blog é longo e se você não tem culhão para ler crítica do seu dorama preferido nem adianta ler o meu blog. (Não julgo pois seria assim caso alguém falasse mal de Secret Forest, até agora vi ninguém falando mal pois realmente é um drama sem defeitos).

Poster do dorama da jtbc/disney+ Snowdrop. Um homem de terno e uma mulher de vestido olhando para câmera em pé. Atrás deles, uma escada de madeira.

Ficha Técnica + enredo

Drama: Snowdrop
Hangul: 설강화: snowdrop
Diretor: Jo Hyun-Tak
Escritora: Yoo Hyun-Mi
Emissora: JTBC, Disney+
Episódios: 16
Data de Transmissão: 18/12/2021 - 30/01/2022 (Sábados e Dominhos 22:30)

Em 1987, um homem ensanguentado pula em um dormitório feminino de universidade em Seul. Young Ro, uma estudante universitária que se apaixona por ele à primeira vista em um encontro às cegas em grupo, cuida dele apesar da vigilância rigorosa e da situação perigosa. No entanto, Young Ro fica chocado ao descobrir seu segredo. Apesar de cuidar de seu primeiro amor, Young Ro, Soo Ho não tem escolha a não ser se mover de acordo com o comando para salvar seus companheiros de equipe e voltar para seu país de origem, onde sua irmã o espera. Young Ro rejeita a vontade de seu pai e trabalha lado a lado com Soo Ho para salvar seu amado e seus amigos. O que acontecerá com o destino deles? (MDL)

Motivação

Acho interessante trazer minha motivação para minha crítica ao drama. E quem leu minha análise histórica de Youth of May vai ter uma ideia das críticas que farei mais abaixo. Aqui, focarei principalmente na crítica de distorção histórica e toda a polêmica do drama antes mesmo de seu lançamento. Você pode não ter, mas eu tenho muita consciência política e de classe e isso é um dos pilares para todo o meu pensamento, ações e desejos. Política não é só você votar a cada 4 anos. É um exercício diário de seus direitos e deveres, é suas ações e percepções em meio a sociedade, é literalmente tudo que você faz, é o que você consome. Querendo ou não, Snowdrop é uma produção de fins políticos, então tem cenas grotescas nesse drama que vou estar explorando por aqui e deixar em aberto o meu ponto de vista. Mas antes disso, vamos falar bem dele antes só pra alguém não dizer que é perseguição com a Jisoo.

Pontos Fortes

É inegável que houve uma grande produção para esse drama, e bem, foi um dos motivos para ele não ser cancelado. O trabalho das câmeras foi muito bem feito, e trouxe uma imersão que não vejo com frequência nos dramas de suspense e ação que são produzidos na Coreia. A mixagem do áudio também foi espetacular e de cair o queixo, assistir com fones de ouvido é algo totalmente diferente de assistir sem. E esses dois pontos foram os que mais destacaram na minha opinião.

O figuro e ambientação também foi bem produzido. A fotografia e cenários que criaram traz aquele lembrança do passado mesmo você não fazendo ideia de como era o país na época. Os dormitórios foram muito bem feitos e gostei demais do cenário. Não tenho o que reclamar.

As atuações não me surpreenderam pois o elenco foi cheio de talentos e atores já consolidados. Jung Hae In nunca tinha feito um papel como o de Snowdrop e falou que teve dificuldades mas isso não transpareceu na sua atuação e como sempre, atuou de forma muito natural e emocionante, do jeito que o papel precisava. Kim Min Soo, outra atriz maravilhosa, que descanse em paz, fez um papel importante nos primeiros episódios do drama e foi realmente essencial para que Lim Soo Ho conseguisse escapar da polícia. Ela vai fazer muita falta na indústria.

Creio que já falei dos pontos que considerei positivo no drama, agora vem as partes ruins, que tem muito. Tenho um tópico específico para falar da atuação da Jisoo só pra causar intriga, eu sou assim, é meu jeitinho. (mentira).

-- Na foto: Cheo Yeong e seu marido

Uma mulher de óculos e cabelo de comprimento médio. Cheo Yeong. Ao lado seu marido que usa óculos.

Críticas

Enredo vazado (fonte)

Começando do começo né. Em março de 2021 o enredo do drama foi vazado e foi aí que gerou um alvoroço na mídia coreana e em diversos grupos democráticos do país. E isso eu só fui descobri lá pelo episódio 5, porque eu não fico procurando sobre bastidores de dramas e só depois que fui ver que realmente tinha muita cena estranha e por isso comecei a pesquisar.

O enredo vazado em questão foi esse: o protagonista masculino é um espião que se infiltrou no movimento ativista, enquanto outro personagem masculino é um líder de equipe na Agência de Planejamento de Segurança Nacional (ANSP), mas é descrito como sendo íntegro e justo.

Bem nada muito diferente do que realmente aconteceu no drama. Houve também acusações de que o drama ia girar em torno de um espião norte coreano que se infiltra nos protestos democráticos da época e que glamouriza a ANSP. Com isso JTBC se defendeu dizendo: “Snowdrop” é uma comédia de humor negro que satiriza as eleições presidenciais que ocorreram na década de 1980 sob um regime militar durante a tensão Norte-Sul na península coreana. É também um melodrama sobre os rapazes e moças que foram vítimas daquela situação. Humor negro em pleno 2021. Okay.

E não foi só isso. A protagonista chamada Young Ro, originalmente, seria chamada de Yeong Cho. Um nome bem raro no país, são poucas pessoas que possuem registro com esse nome, e uma delas é Cheon Yeong Cho, uma ativista dos anos 70/80 e uma figura simbólica e importante nos movimentos democráticos tanto de Gwangju quanto de Junho de 1987. Seu marido também era ativista e morreu em 1988 vítima de desnutrição depois de ser sido torturado pela polícia pela acusação de ser espião norte-coreano. Aqui já da pra ter ideia do tamanho do buraco que esse enredo vazado entrou.

Colocar Yeong Cho como nome da protagonista, em que ela se apaixona por um espião norte-coreano, sabendo que existe uma figura simbólica com esse mesmo nome e o marido morreu por conta de acusação de espionagem... Eu entendo isso como uma afronta, um mau-caratismo por parte de quem escreveu o enredo. Ainda por cima, Yeong Cho tem sérios problemas de saúde por conta de um acidente e não consegue nem falar e se locomover direito, dando aos internautas mais um motivo de desprezar a escolha desse nome para o drama, insinuando que a produção não teria que se preocupar com Yeong Cho já que ela não teria como se defender.

Mas não ficou por isso, depois de muitos protestos e repercussão negativa, o enredo foi revisto e reescrito mudando o nome da personagem principal para Young Ro e reafirmando que não teria nenhum espião norte-coreano liderando movimentos democráticos e que a história não ia centralizar neles e sim na dinâmica de poder entre políticos de alto escalão da Coreia do Norte e Sul. (fonte)

--Na foto: A música '솔아 솔아 푸르른 솔아' foi colocada no segundo álbum do projeto 노래를 찾는 사람들 (Pessoas que procuram músicas), onde cantores, músicos e compositores se reúnem para gravar músicas tradicionais coreanas. Os álbuns do projeto são carregados de canções usadas nos movimentos democráticos. O segundo álbum foi lançado em 1988 e foi um grande sucesso na época, sendo até hoje um dos mais conhecidos.

Foto do álbum 노래를 찾는 사람들

Música episódio 2

Apesar do enredo vazado e muitos pedidos de cancelamento, JTBC continuou afirmando que o drama iria continuar e que o telespectadores iriam entender o enredo conforme os episódios fossem lançando. A partir do episódio 2 já deu para perceber que o enredo continuou sendo o mesmo que foi liberado meses atrás. E assim, movimentos democráticos entraram com um pedido de cancelamento do drama através de petição no site da casa presidencial (Blue House) e em menos de um dia arrecadou mais de 250 mil assinaturas (petição). Isso demonstrou o descontentamento com muitos sul-coreanos e principalmente com pessoas e familiares das vítimas da ditadura da época.

Quando Lim Soo Ho estava fugindo da polícia após um acidente de carro, ele passou em meio a um protesto que estava ocorrendo entre estudantes e militares em que os estudantes estavam cantando uma canção. Essa canção chama-se 솔아! 푸르른 솔아 (Solah! Green Solah) e foi considerada um hino durante os movimentos democráticos que simbolizava dor, força e vitória para as lutas que aconteciam e era sempre cantada pelos militantes.

Dizer que o enredo não tem como foco os movimentos democráticos daquele ano (relembrando, 1987 meados de novembro) ao mesmo tempo que coloca uma das músicas mais emblemáticas dos protestos que ocorreram no país enquanto ocorre uma perseguição de um espião norte-coreano por um policial da ANSP, considero uma hipocrisia e uma grande irresponsabilidade.

-- Na foto: Escritora Yoo Hyun Mi e presidente Yoon Seok Yeol.

Escritora Yoo Hyun Mi e presidente Yoon Seok Yeol.

KCIA e ANSP

Um dos tópicos mais criticados do enredo sem dúvidas foi a glamourização dos oficiais da ANSP, antiga KCIA. Para quem não sabe o que é KCIA eu também já falei sobre ela no blog de Youth of May. E isso eu percebi desde o começo dos episódios e tive certeza no episódio 5. Dava para perceber que o enredo mostrava atitudes cômicas na dinâmica de Nam Tae Il e Eun Chang Soo em seus diálogos. A histeria de Nam Tae Il era dramaturizada fazendo com que o personagem fosse digno de pena e visto como pateta. O extremo oposto do que realmente eram na história coreana.

O que também me deixou perplexa foi a preocupação do policial Lee Kang Moo e da Jang Han Na com as estudantes do dormitório em todo o decorrer do drama, aliado a característica violenta dos espiões norte-coreanos. Claro, mais uma invenção da história camuflada na nuvem de “liberdade de expressão/criativa” que a JTBC alegou. Na história dos protestos, os policiais da ANSP foram os que mais mataram e torturaram estudantes naquela época. Tinham uma mentalidade hostil e nenhum pudor e ressentimento nas suas atividades. Então quando via as cenas eu não conseguia assimilar aquilo, não entrava na minha cabeça e tudo começou a fazer menos sentido e a vontade de continuar assistindo foi diminuindo.

Outro coisa que para mim eu considero um furo de roteiro foi a permanência do Lee Kang Moo no dormitório, logo quando ele foi rendido. Ele foi o principal causador de toda a bagunça e falha no plano entre Sul e Norte. E se o Sul realmente queria que o plano desse certo, eles tirariam o Kang Moo do dormitório para ele não atrapalhar a missão dos espiões. Mas claro, dessa forma não teria enredo nenhum.

E se formos mais a fundo nos bastidores desse drama, vamos achar que a JTBC, emissora do drama, é fundada e administrada pelo conglomerado Grupo JoongAng, no qual possui diversas empresas afiliadas como o jornal JoongAng Ilbo e a emissora JTBC. O jornal JoongAng Ilbo é conhecido pela sua política conservadora e de centro-direita (que na minha opinião, de centro não tem nada). Passando pelo site do jornal é possível ver grandes manchetes anti-China e anti-Coreia-do-Norte. Então, é inegável que, pelo grupo JoongAng ter a maioria das ações da JTBC, possa ocorrer um viés político intencional que favoreça os interesses de seu maior acionista.

Além disso, a escritora de Snowdrop, Yoo Hyun-Mi, já agradeceu ao político Yoon Seok Yeol, em 2008, por ele ajudar a escrever o roteiro de um drama que ela fez na época. Quem é Yoon Seok Yeol? Atualmente, presidente da Coreia do Sul. Na época da transmissão de Snowdrop era um dos candidatos a presidência. Um político conservador que muito se assemelha ao presidente do Brasil de 2019-2022 pelas suas falas sem pudor, exageradas, e pela falta de inteligência. Yoon Seok Yeol já afirmou que os movimentos democráticos dos anos 80 e 90 foram “importados de ideologias estrangeiras” e não refletiu o desejo de uma “Coreia liberal” no qual deveria ter refletido na época. Acho que da pra tirar conclusões já.

-- Na foto: Soldados Paramilitares na celebração do 73° aniversário da fundação da DPRK

Soldados Paramilitares na celebração do 73° aniversário da fundação da DPRK

Espião e Treinamento Militar Norte Coreano

Eu não vou ir a fundo nesse tópico porque até aqui já é meio óbvio o quão errado é ter um personagem espião em um drama durante a época de uma eleição. Você saberia o porquê pelo meu blog de Youth of May ou por apenas ter pesquisado sobre a história da Coreia do Sul Moderna. O ditador militar Chun Doo Hwan desde Gwangju, 7 anos atrás dos eventos que ocorrem em Snowdrop, forçou investida militar em ativistas e estudantes com o pretexto de um espião norte-coreano. Foi por conta dessa mentira que centenas de pessoas morreram na época. Fazer um roteiro em que o personagem principal é DE FATO um espião e se infiltra no país, mesmo que não participe de protestos, é de um enorme mau-caratismo. Eu nem sou coreana e muito menos vivi os acontecimentos reais, mas só de imaginar isso, considero uma tremenda falta de sensibilidade com as vítimas daquela época.

Uma cena específica me chamou atenção também, no episódio 12, onde mostra o flashback de um treinamento norte-coreano onde Lim Soo Ho salva seu companheiro dizendo que o Partido nunca iria incentivar a morte de seus companheiros. Na cena, o treinador ordena para aqueles soldados que não conseguiram matar “japoneses”, pessoas que estavam amarradas em postes, fossem mortos por traição. Lim Soo Ho foi o primeiro a se rebelar contra essa ordem. Eu achei curioso pela completa falta de sentido que essa cena proporciona. Por que uma cena em que um soldado precisa matar um companheiro faria sentido senão pelo fato de inflar o sentimento anti-Coreia-do-Norte nos telespectadores? Chega a ser irônico pelo fato de que na época que esse episódio foi lançado, a Coreia do Norte (DPRK) concedeu anistia para todos que foram acusados de crimes contra a pátria e o povo a partir do dia 30 de Janeiro de 2022, em comemoração ao 110º aniversário de Kim Il Sung e 80º aniversários do dirigente Kim Jong Il. Então essa narrativa desse treinamento não tem base nenhuma. (fonte)

Velhinho Espião

A cena em que o velho, Kim Man Dong, mata a antiga diretora do dormitório, Song Hye Joo, após descobrir que ele era uma espião norte-americano, é tão chocante quanto a do treinamento militar. São tantas frases erradas que foram ditas nessa cena que apenas um tópico sobre isso não é suficiente.

Song Hye Joo ao criticar a Coreia do Norte: “Amor? Eles não tem liberdade, como isso é amor?”.

Disse ela enquanto está vivendo literalmente em uma ditadura.

-- Na foto: Candidatos principais a presidência da Coreia do Sul em 2022. Lee Jae Myeong, Yoon Seok Yeol, Shim Sang Jeon, Ahn Cheol Soo.

Candidatos principais a presidência da Coreia do Sul em 2022. Lee Jae Myeong, Yoon Seok Yeol, Shim Sang Jeon, Ahn Cheol Soo

Eleições Presidenciais

Estamos chegando perto do final do blog. Esse tópico é apenas para expressar sobre como produções audiovisuais não são destituídas do contexto em que foram criadas. Quando critiquei uma cena no episódio 5 alertando sobre a distorção histórica e falando para ter cuidado em não acreditar nela, uma pessoa veio criticar meu pensamento falando: “É um dorama, quem pega conhecimento de um dorama?”. Eu respondi: “Tudo que assistimos, nós pegamos aspectos culturais, não é conhecimento, mas é algo que fica dentro da cabeça”. No qual a pessoa fala: “Só um idiota pegaria aspectos culturais de um programa de TV”. Eu fiquei chocada pela falta de consciência cultural que as pessoas tem. Literalmente qualquer coisa que assistimos, captamos aspectos culturais, querendo ou não. Como vocês descobriram que a Coreia do Sul tem o kimchi como prato tradicional? Como descobriram que lá existe um grande respeito pelos idosos? Como descobriram que lá é comum cremar um corpo depois que morre? Tudo isso é mostrado em suas novelas.

Então, sim. Mesmo que você saiba distinguir algo que é fictício e algo que é real, muitas pessoas não conseguem. E aquelas cenas em que você fica na dúvida? Você procura entender/pesquisar depois que assiste ou apenas aceita a narrativa? É pra isso que propaganda foi criada.

O período de transmissão de Snowdrop aconteceu durante o período de eleição presidencial. As eleições foram em Março de 2022 e conforme predição das pesquisas Yoon Seok Yeol foi eleito em meio a uma campanha polêmica. Você acha que o momento em que o drama foi transmitido é pura coincidência? Reflita.

As vezes a gente fica preso numa bolha em que o mundo dos doramas é perfeito, onde as produções sempre nos satisfazem e entregam muito conteúdo. A gente as vezes acha que a produção de dramas é puramente “fan service” para quem consome. Mas não é isso. São produções que passam por diversos processos até serem transmitidas nas televisões dos sul-coreanos. Tem muito dinheiro envolvido e muita intenção política também. Apesar da audiência não ser um fator importante para NÓS consumidores brasileiros, é um fator essencial lá na Coreia.

Snowdrop não saiu da faixa de 1-3% de audiência mesmo sendo transmitido em horário nobre nos fins de semana, sendo ultrapassado até por Uncle pela TV Chosun com 7-9% de audiência, mostrando uma clara rejeição por grande parte dos telespectadores de lá. Isso fica claro quando o drama fica mais famoso aqui fora do que onde realmente importa. Mas por que a escolha de produzir e continuar com o drama apesar dessa rejeição? Uma provável resposta já foi falada aqui no blog.

Ji Soo

Acho que a escolha de Ji Soo para o papel principal foi equivocada. Era um papel muito difícil assim como papel de Jung Hae In. Porém, o último já tem uma carreira de ator consolidada e atua há muitos anos. Apesar de ser um papel totalmente diferente do que ele já fez até hoje, ele conseguiu muito bem interpretar, porque né... é um ator. Já Jisoo é uma cantora, foi seu PRIMEIRO papel como atriz. Logo esse, um papel difícil. Infelizmente, na minha opinião, deixou a desejar em todos os aspectos. Mesmo ela chorando em partes que tinha que chorar, não vi comprometimento nem nessas cenas e mais ainda em outras que exigiam outros tipos de expressões.

Deu para perceber que ela estava tensa em todas as cenas dela e não senti emoção na sua atuação. Não vou nem comentar do beijo porque a forçação de um romance já é em si um erro. Talvez pela produção querer colocar uma personalidade forte e famosa na Coréia do Sul e no mundo inteiro para forçar o aumento da audiência pode ter sido o caso, pois em questões de entrega de atuação, com certeza ela não seria escalada para esse drama. Normalmente os idols de kpop começam com um papel mais simples e sem muita demanda emocional para depois ir crescendo no meio. Porém Ji Soo já começou num papel que até para atores profissionais, é um papel difícil. Curioso, não?

-- Na foto: Posters dos dramas Youth of May e Snowdrop

Posters dos dramas Youth of May e Snowdrop

Comparação com Youth of May

Não tem como não comparar com o drama Youth of May, ambos passam na década de 1980. A questão é que Youth of May foi inspirado e adaptado nos eventos de Gwangju daquele ano. Já Snowdrop foi inventado e com algumas adaptações de um livro de um desertor norte-coreano. Outra diferença é que Youth of May se preocupa em mostrar os acontecimentos reais de Gwangju ao mesmo tempo em que foca em dois jovens apaixonados. Já Snowdrop parece que coloca o dormitório feminino numa bolha mágica e só aquele evento que está acontecendo no país naquele momento e nada mais. Eles literalmente, com exceção de uma cena de segundos no episódio 2, retiraram todo o movimento democrático de cena e inventaram a narrativa de acordo entre Sul e Norte para a eleição do partido atual. A desculpa da JTBC foi criar um drama falando sobre como pessoas no poder manipulam outras para fins próprios. Mas bem... Isso poderia ser feito em qualquer período de tempo e em qualquer tipo de situação mas escolheram logo o ano de 1987 e eleições presidenciais como tema sem considerar os eventos históricos reais da época onde centenas de pessoas morreram para que pudesse existir eleições diretas de fato? Coincidência novamente? Reflita.

-- Na foto 1: Park Jong Cheol (esq.), Lee Han Yeol (dir.) após ataque de bomba de gás lacrimogêneo em sua cabeça em 09/06/1987.

-- Na foto 2: Funeral de Lee Han Yeol no dia 09/07/1987 com mais de um milhão de pessoas prestando homenagem.

Park Jong Cheol (esq.), Lee Han Yeol (dir.) após ataque de bomba de gás lacrimogêneo em sua cabeça em 09/06/1987. E Funeral de Lee Han Yeol no dia 09/07/1987 com mais de um milhão de pessoas prestando homenagem.

O que realmente aconteceu em 1987

Não tem como falar disso em apenas um parágrafo então recomendo a leitura do livro Asia’s Unknown Uprisings de George Katisiaficas onde ele fala de diversos levantes estudantis importantes na história coreana, passando pelos protestos dos anos 60/70/80/90. Falando sobre Gwangju e também sobre Junho de 1987.

Tudo começou com a notícia da morte do estudante Park Jong Chol em Janeiro daquele ano e a omissão policial sobre o caso. Em Maio, foi descoberto a verdadeira causa por trás da morte: tortura. Mais protestos aconteceram nesse mês também. No dia 9 de Junho ocorreu um protesto, organizados pelos estudantes da Universidade Yonsei, com tremenda repressão policial. Um dos estudantes, Lee Han Yeol, foi atingido com uma bomba de gás lacrimogênio na cabeça e entrou em coma. Isso instigou a raiva da população e, durante todo o mês, houve grandes protestos contra o uso de gás lacrimogênio além das demandas por eleições diretas, punição para os responsáveis pelo massacre de Gwangju, etc. Foi o mês inteiro cheio de movimentos sendo o grande dia, o dia 26. A morte chocante de Lee Han Yeol quase um mês depois do acidente, fez que com que mais de um milhão de pessoas comparecessem ao seu funeral em Seoul. Foi no dia 29 de Junho que o governo rendeu-se a demanda por eleições direta e anunciou a medida.

A história de Park Jong Chol e de Lee Han Yeol é contada no filme 1987: When The Days Come com a Kim Tae Ri como protagonista, além de mostrar com fidelidade os acontecimentos daquele ano, a produção conseguiu encaixar, com leveza, um romance. Diferente de Snowdrop.

Cenas de bastidores de Snowdrop

Finalização

Cheguei ao fim. Espero que a minha opinião fique clara sobre esse drama. Snowdrop não passou de uma propaganda anti-comunista feita em período de eleições no país para tentarem aumentar o poder político dos conservadores. Apesar de uma produção cara, bem feita, com ótimo elenco, o roteiro claramente com ideologia liberal culminou em uma produção enviesada para fins políticos. Na minha percepção, é também preciso ter em mente que doramas não é feito apenas para entretenimento estrangeiro mas serve como uma máquina ideológica para o contexto atual do país. Consciência política também é entender que apesar de eu ser viciada em doramas, também tenho uma visão clara de como este pode servir como ferramenta de alienação.

E para encerrar, termino com uma frase da candidata à presidência Shim Sang Jeong, em sua resposta sobre o drama Snowdrop:

“Liberdade criativa deve ser humilde diante das feridas da história”

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