[Análise] Through Love — Hyukoh

O mais recente álbum da banda Hyukoh. Aqui eu analiso seus significados, tanto visual quanto musical, suas letras, melodias e sons dentro de cada música. O álbum mais ambicioso e demorado da melhor banda de rock coreano.

Introdução

Dia 30 de Janeiro de 2020 foi o grande lançamento do tão esperado álbum da banda sul-coreana Hyukoh. E como fã que sou, sei que cada álbum deles significa milhões de coisas e venho por meio deste blog, analisar suas músicas para entender melhor a proposta e quero dividir com todo mundo. Então vamos ao blog.

OBS: já fiz um blog de análise do álbum anterior, 24. Está disponível aqui no site.

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Sumário

Imagem dos integrantes da banda. Da esquerda para direita: Hyunjae, Donggun, Oh Hyuk, Inwoo. Fundo Branco.

Hyukoh?

Hyukoh é uma banda de indie rock que debutou no ano de 2014 pela sub-label da YG, HIGHGRND com seu álbum "20". Possui 4 integrantes e todos nasceram no mesmo ano. O nome Hyukoh nada mais é que o nome OH HYUK, vocalista da banda, alternado. A banda ganhou notoriedade pelo seu som único dentro da indústria musical coreana e ganhou diversos prêmios no MAMA e KMA durante sua carreira. Já lançaram ao todo, 5 álbuns, sendo eles: 20, 22, 23, 24 e o último Through Love.

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Colagem de fotos da banda. Uma delas dentro do estúdio de música Real World Studio

Visão geral do álbum

Janeiro de 2020

O álbum foi lançado no dia 30 de Janeiro de 2020. Sob a companhia Dooroo Dooroo. Foi gravado no estúdio da Real World Studio, uma renomada gravadora britânica que gravou com artistas como: Beyoncé, Arctic Monkeys, Alicia Keys, Harry Styles, Amy Winehouse, Paul Simon, entre outros. E recebeu ajuda do compositor alemão e amigo de longa data da banda, Norman Nitzche. Possui 6 músicas, assim como o álbum anterior. E analisarei cada uma delas.

01 Help 5:24

02 Hey Sun 5:26

03 Silverhair Express 3:34

04 Flat Dog 3:45

05 World of Forgotten 1:34

06 New Born 8:46

Full Album

Epa. Cadê o número? Não deveria ser 26? 25?

Dessa vez a banda resolveu cortar o padrão numérico que foi sempre presente em seus álbuns. Foi mais uma questão sentimental da banda diante dos acontecimentos mundiais em diversas áreas da sociedade que levou a pensar em focar totalmente na ideia do Amor. Por isso, Through Love, em português (Através do amor ou Com Amor), tem a intenção de fazer o ouvinte perceber que com o Amor, conseguimos superar tudo, e conviver com todos. Creio que a banda não quis fazer com que o álbum fosse apenas uma sequência dos anteriores mas sim um novo conceito e uma mensagem nova para um mundo certamente mudado.

Muitos fãs se surpreenderam em receber um álbum diferente do que estão acostumados deles. Nos álbuns anteriores, 23 e 24, a banda tinha letras maiores e mais acusadoras, elas mostravam o protesto da banda com relação a alguma questão sociopolítica, tinha uma vibe inquisitiva. Além do som pesado de rock que estávamos acostumados como em Wanli ou em Citizen Kane. Mas em Through Love as músicas se tornam menos carregadas de letras e com melodias calmas a tranquilas, mostrando um novo lado da banda, que, na verdade, sempre existiu.

Colagem de fotos da banda.

Minha visão

Isso foi a visão dos fãs mas para mim Hyukoh não me surpreendeu neste quesito. Não me surpreendeu em nada pois sempre acreditei no potencial deles de inovar e trazer músicas bem trabalhadas e de qualidade. Sempre soube que a banda tinha esse lado experimental e tranquilo. Como se estivesse voltando as suas raízes. Para mim, vi muitas semelhanças técnicas entre o álbum 20/22 com Through Love. No começo da carreira, a banda só se preocupava em fazer música por diversão e depois eles começaram a introduzir um discurso subversivo em 23/24 engajando na luta contra a desigualdade, homofobia e outras pautas importantes. Foi quando começaram a se tornar conhecidos. Agora eles voltaram na questão de fazer música focando em trazer o melhor deles, a melhor qualidade, algo que eles nunca irão se arrepender de entregar ao público mas com uma mensagem pacífica para um mundo muito mais cruel que se tornou. Como fosse um remédio que amenizasse as dores e indignações que este mundo traz para nós e para eles também. Eu sempre acreditei que eles eram capazes disso.

Fotografia de plantas de diversas espécies. Em destaque uma aparentemente murchada. Tirada pelo fotógrado Wolfgang Tillmans.

Sobre a capa do álbum

É importante falar da capa do álbum porque nisso também a banda se preocupou em passar a mensagem que eles realmente queriam. A capa é uma fotografia do fotógrafo alemão Wolfgang Tillmans. Ele foi o primeiro fotógrafo (e primeira pessoa não-britânica) a ganhar o Prêmio Turner. Esse Prêmio é dado, anualmente, a artistas britânicos das artes visuais com menos de 50 anos de idade. Ele ganhou o premio no ano 2000. Tillmans gosta de fotografar com o objetivo de ver o mundo, diz ele. É bastante engajado nas pautas LGBTQIA+ e outros movimentos de minorias. wiki

A capa é uma fotografia que ele tirou em 2011, chamada Osterwaldstrasse. É uma foto de plantas de diversas espécies tirada ao lado de uma rodovia (o nome da rodovia que dá o nome à foto). O significado dessa foto é que por ser plantas que ficam ao ar livre e ao lado da rodovia, estão expostas a ventos fortes, inverno rigoroso, tempestades, etc e ainda sim conseguem sobreviver a todas essas mudanças. Mesmo a planta central estar aparentemente murchando ela ainda está viva. Isso que Hyukoh quer mostrar nesse álbum. Que através do amor, conseguimos sobreviver e viver, juntos (com diversidade), apesar das adversidades.

Agora vamos ouvir as músicas!!

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Help

suddenly they’re all disappeared
take a look and no one is there
finally i am free
sun is out but my mind is blind
hey Jesus there?
can you hear me?
i am lost
he is never gonna let us down
never gonna let us down

A primeira faixa da música começa num jeitinho brasileiro. Hyukoh utilizou o bossa nova para abrir o álbum de uma maneira inédita. A letra é pequena e gira em torno da solidão que o eu lírico começa a perceber ao seu redor. E em meio a essa solidão ele busca refúgio em Jesus, um ser divino no cristianismo, no qual a letra fala que nunca Ele irá desapontá-lo, ou abandoná-los. Não sei bem o porque do Hyukoh utilizar Jesus na letra. Meu palpite é que: Jesus é a divindade mais conhecida no mundo que prega o amor ao próximo. E é disso o o álbum se trata. E a solidão que a música fala não é algo ruim. A letra diz que ele se liberta. Ele se sente livre. Ou seja, ele ficou feliz em ter saído de algo ou de pessoas que o prejudicavam e assim que entra Jesus, o melhor amigo do homem, no qual a música busca refúgio. Além do título ser Help (Ajuda).

Analisando para o lado religioso podemos interpretar também no sentido cristão. Pois trata-se de uma música tranquila melodicamente e a letra falando de Jesus ser a única pessoa que não nos decepciona e a única que podemos pedir ajuda sem medo é Ele. Então torna-se uma canção reconfortante e consoladora nesse sentido.

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Hey Sun

morning sun set back to normal
waiting is always here it never ends
but what are we waiting for
The end is here another beginning of the end
beginning of the

A minha música preferida do álbum, simplesmente pela genialidade de Hyukoh de transformar ela numa música que não acaba nunca. A banda cria essa ilusão de infinidade com a letra da música que vai e volta a música inteira. Começa e termina e começa onde termina e assim vai. O interessante é que conecta de imediato com a primeira música do álbum. Na música 'Help' tem o verso que diz: Sun is out (o Sol raiou). E o título dessa música é um cumprimento ao Sol.

O entendimento que tenho da música é como se fosse nosso cotidiano. O dia indo, acabando, e começando de novo no outro dia. Como tivéssemos cumprimentando o Sol todo dia que ele aparece. Vivendo nossas vidas esperando algo acontecer até que o outro dia comece. Eu não sei vocês, mas essa música me dá um gás motivacional como nenhuma outra. Como se ela falasse para mim: Tiemi, relaxa porque senão deu certo hoje, amanha é outro dia, você pode tentar de novo e senão der, cara, tem o dia seguinte também, sabe. Não desista.

Para mim esse é o sentimento quando ouço a música e me sinto tão bem depois de ouvir. Além de toda a instrumentalidade e tecnismo que a música emprega.

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Silverhair Express

알아가거나 잊어가거나
사랑하거나 슬퍼하거나
잊어가거나 잊혀가거나
사랑해야지 슬퍼하지마

Aqui o bossa nova ressurge junto com elementos também de lounge music. E já vou logo confessando que não entendi bufunfas do título da música mas a letra, agora em coreano, é direta. Mostra uma alternância de escolhas que sabemos qual é a melhor. Conhecer ou esquecer? Amar ou Entristecer? Depois somos introduzido por um instrumental maravilhoso. A letra seguinte seria Esquecer ou Esquecer (para sempre/por completo)? Precisamos Amar, Não fique triste. Enquanto Oh Hyuk começa a cantarolar junto com a música.

Para mim a música é um símbolo do deboísmo. Uma canção com melodia dançante e alegre que fala para nos amarmos e esquecer quaisquer desavenças. Até porque quem fica triste com uma música dessas?

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Flat Dog

오늘 나의 하루는 이 만큼 보물이라
아끼고 또 아끼다 이미 저 멀리에
아쉬운 마음 틈에 다시 튼 동을 보고
오늘 나의 하루라 거짓말을 했다
거울에 비친 나도 찰나의 과거였지
우린 늘 움직이니 비로소 가만히
맘은 어제와 같네 마음은 어제와 같네
다시 튼 동을 보고 안도를 느꼈다

Desde o início da música já percebemos que influência a banda tirou para criar esta canção. Eu literalmente pensei em Come Together do Beatles quando escutei e faz todo sentido. O ritmo é praticamente o mesmo e a letra também acompanha que faz lembrar bastante. Claro que Hyukoh trouxe sua singularidade para a música, além da letra, temos sintetizadores e efeitos sonoros que são a cara da banda.

Já a letra é meio confusa para mim, traduzi usando o Papago e segundo a tradução também dá a mesma ideia da música Hey Sun. Falando sobre o amanhã e pensando no ontem. Parece que ele está meio confuso com a vida que leva, um pouco preso no passado mas também ansioso para o futuro. Emoções que todos nós sentimos. Essa letra também dá o sentido de alivio por começar um novo dia e talvez ser capaz de mudar algo que ele queria mudar antes e não conseguiu.

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World of Forgotten

wait, i know you but where did i meet you?
is it Bern or Taipei oh where are you going?
wait, i know you but where did i meet you?
is it Bern or Taipei oh where are you going?

Aqui nessa música eu entendi como uma crítica social ao mundo de hoje. Logo no título dela em que diz World of the Forgotten (Mundo dos Esquecidos) e na música um monólogo que tenta lembrar onde conheceu certa pessoa. Me faz pensar sobre como consumimos informações a todo momento e ficamos com o cérebro carregado de lixo virtual e informações desnecessárias que faz com que esquecemos coisas/pessoas que possam ser importantes para nós. E temos uma chance de as perdemos para sempre. Porque o mundo não está no celular e nas mídias sociais. O mundo real é aquele que compartilhamos com as pessoas ao nosso redor. E ficarmos confinados em apenas nos divertir e/ou viver numa realidade virtual pode causar sérios danos no futuro mais do que já causa no presente.

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New Born

in the circle nobody else
but you’re whistling in the dark
so come down and take a look
come full circle here we are
everything i buried with my hand
towards the side of my bed
everything is gone in the end

Essa deve ser a música que mais representa o álbum inteiro. Os 8 minutos de música fala sobre como a banda se sente em relação ao mundo e o que o álbum demonstra são seus sentimentos mais honestos sobre a sociedade. Aqui parece que o eu lírico, talvez o Oh Hyuk-e até mesmo a banda inteira, veio acumulando diversos sentimentos, preocupações, ansiedade, inseguranças com tudo que está acontecendo no mundo, seja politicamente, ambientalmente, socialmente, para si. Estava acumulando tudo dentro dele mas aqui ele se liberta. Ele se liberta das garras do mundo que o prende e o deixa com emoções negativas. E isso pode ser percebido mas pelo instrumental do que pela letra que fica meio embaçada pelos instrumentos. Os sintetizadores e efeitos fazem a sua parte para demonstrar a libertação do eu lírico de todas as preocupações que ele tem do mundo atual. Por isso o título New Born (Renascimento). E também convidando, a gente no caso, a fazer o mesmo. Como se a primeira estrofe falasse: "Cara, vem aqui, já tá todo mundo reunido, só falta você. Não fique triste e celebre com a gente."

Quando a letra termina e os instrumentos e sons permanecem podemos perceber um som de motor de avião indo e vindo, acelerando e desacelerando, decolando e aterrissando e divagando pelos ares. Como se estivesse sem rumo e sem controle. Uma nova pessoa, um novo futuro. Novas escolhas e novos meios para se viver. Isso que consigo entender de toda a instrumentalidade que a música oferece.

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Colagem de fotos da banda. Em destaque: Fotos dos membros com amigos dentro de um estúdio de gravação.

A revelação

A maneira certa de escutar o álbum, diz Oh Hyuk

Aqui eu encerro a minha análise do álbum. Claro que são apenas MINHAS opiniões diante das músicas. Cada um escuta e interpreta de um jeito. Quis mostrar o meu, como fã de música, como fã de Hyukoh. Mas o próprio Oh Hyuk disse que preparou cada música para que uma se "grudasse" na outra se tornando uma única música no álbum. Uma música de 26 minutos e 25 segundos. Olha só o número 26 aparecendo e o 25 também. Como se a banda demonstrasse também uma continuidade em seus álbuns por meio deste também. Sem colocar os números no nome do álbum mas passar através das músicas. 26 é a idade de todos os integrantes da banda aliás. Isso, para mim, também mostra o pensamento, ideologias e posicionamento, de cada um deles na idade de 26 anos, no mundo. E na verdade, era isso que eles queriam mostrar em todos os álbuns. Os pensamentos de jovens dessa idade (20,22,23,24) e como se comportam.

Em Help, primeira faixa do álbum você percebe o som de avião como na última música, em Help como se estivesse tentando decolar. Som das hélices pegando velocidade. Além disso eles tomaram o cuidado de terminar a música diminuindo o volume dela gradativamente para introduzir a próxima. Como se fosse apenas uma pausinha e não como outro música nova e diferente. Assim como de 'Hey Sun' para 'Silverhair Express' em que a terminou em um acorde e a próxima começou no mesmo e o estilo musical volta para o mesmo da primeira faixa. Entende? Tudo foi planejado. E isso vai acontecendo em todas as passagens de uma música para a outra. No meu entendimento o álbum foi como uma viagem. A decolagem acontece nas três primeiras músicas e o pouso acontece na última pelos instrumentos e efeitos que o álbum oferece.

O que também consegui entender do álbum, vendo todas as previews no Youtube, ouvindo as músicas, uma por uma, e depois ouvindo milhões de vezes como se fosse uma única música é que a banda queria que começássemos a praticar o amor em todas as ocasiões das nossas vidas, porque para eles é a única maneira de viver em harmonia e resolver conflitos que andam assolando o mundo como a discriminação, ódio, conflitos generalizados, desmatamento, aquecimento global, etc. A própria banda diz que em vez de grandes frases de efeito que colocam nas músicas eles quiseram apresentar o Amor como uma prática diária.

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Colagem de fotos da banda, fundo preto e foto com flash que destaca os membros.

Finalização

O blog chega ao fim no qual foi mais um monólogo meu tentando entender todo o conceito por trás do álbum e menos como um blog em si. Mas espero que tenham gostado das análises ou tentado enxergar de outra maneira. Porque entendo que o grande objetivo de músicos fazerem música é que as pessoas dissequem o álbum, interpretem da sua maneira, sentem o que tenham que sentir sabe. E não apenas ouvir por achar o som legal mas ouvir com o coração. Acho que essa é a nossa tarefa e retribuição que temos que fazer para alguém que produz arte e entretenimento para nós.

Até a próxima.

Blog inicialmente produzido em 05/02/2020

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